Partindo de gestos do desenho e suposições da memória, a artista olha corpos de outras espécies através de arquiteturas evocativas de modos distintos de olhar a paisagem.
Na lógica de um caderno de campo as longas gravuras em papel dourado, que dão nome à exposição, lembram-nos inscrições arqueológicas de seres prolíficos e mitológicos. A deliberada desordem axial das composições sugere a sensação de se tratarem de corpos com ausência de gravidade, de observação fugaz, muitas vezes apenas identificados pelas suas impressões no solo ou detritos deixados para trás. Estabelecendo relação com a proporção da janela do observatório de aves do Parque Ecológico Urbano, os relevos abrem lugar para uma outra leitura simbólica das espécies.





Na sala pequena do pavilhão, Mariana Barrote apresentou o vídeo 'Bous na lica”. Uma figura enfeitada com o prestigio animal dança numa arena silvestre povoada de flora espontanea. Filmado na Antiga Praca de Touros um corpo humano camuflado de bovino percorre o espaço em delírio. A natureza onírica da sequência-video confronta-nos com o artifício da personagem e a condição bravia do cenário. Pontuando a instalação video, flores de palmitos agarram-se a estrutura do pavilhão como que se de olhos se tratassem. O interesse pela artista na técnica tradicional das flores de palmitos promoveu o encontro com a oficina de produção de palmitos da ACISJF (Associação de Apoio à Mulher e Família, Santuário da Senhora da Agonia) onde a artista recebeu uma introdução às técnicas de produção tradicional.
Entre a camuflagem e o espetáculo, o registo e o encenado – o projeto de Mariana Barrote desenvolvido em residência gera um imaginário alternativo em torno das espécies e dos ecossistemas locais.