Programa  > Translucidez

Translucidez
Landra

14 Outubro — 12 Novembro
Mnemonic Pavilion

Curadoria: Miguel Teodoro
Design gráfico: Samuel Rego e Irene Peixoto



Sinopse

Entramos num pavilhão translúcido; num observatório que é tanto permeável quanto impermeável, em escalas diferentes. O que está fora é paisagem, e distancia-se de nós, lembrando-nos daquilo que era apenas através formas e cores.

No sentido inverso, trazemos para perto o que se afasta, observando lado a lado matérias que naturalmente nunca se tocariam. Vêm-se recolhidos e organizados os materiais provenientes de biomas do parque em diversos estádios de sucessão. Analisamos os solos, e o que cresce neles, tudo num sítio só.

Fora dele, as marcas do distanciamento mantêm-se. Caminhando pelo parque, o esquecimento está em todas as coisas: nos cortes, nos posicionamentos, nas geometrias, nas densidades. O que ainda reconhecemos nas terras e no que nelas cresce? Quão distantes estamos da necessidade de nos embrenharmos de novo no que nos envolve? Que fome nos falta para que uma macieira não seja apenas paisagem? Quantas bolotas serão comidas neste parque? Quantos carvalhos germinarão para serem decepados pelas lâminas de um corta relvas?

Ler a terra é necessário. Viver com ela é necessário. Como animais, a nossa vida dependeria dessa literacia, dessa convivência. Hoje, se já não dependemos dessa relação estreita com o mundo para sobrevivermos, e ainda assim, sobrevivemos, o que nos mantém vivos? Que mecanismos e processos se interessam pela continuação da nossa vida? Quaisquer que sejam, devemos conhecê-los bem.

Aqui, estamos rodeados dos aparelhos da modernidade: um microscópio, um televisor digital, vidros de borosilicato, poliedros de acrílico; um pavilhão de aço galvanizado, plástico transparente e conglomerados.

Rodearmo-nos deste conjunto específico de materiais de origem

industrial serve não para andarmos progressivamente para a frente, mas para questionarmos essa progressividade e para caminharmos, na maior parte dos casos, deliberadamente para trás.

Utilizamos os mecanismos da modernidade para ganhar lucidez; para voltarmos a ter confiança na nossa posição como animais na rede da vida. Comemos terra, fermentamos bolotas. Maçãs podres dão a melhor cidra. Dá-nos força o ar florestal. Aprendemos com os sentidos para que os nossos corpos saibam o mundo, e que ele nos saiba bem.

Os nossos pais são livros, nós somos computadores, mas os nossos filhos serão animais de verdade. Viemos do distanciamento do cubo branco, passando pelo reconhecimento do cubo transparente, caminhando para fora do próprio cubo.

Landra, 2023